sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pequenas invenções a respeito de nomes verdadeiros

Lane Valiengo

        Os nomes feios e absurdos invadiram o Brasil nas últimas décadas, multiplicando-se de forma assustadora. Pais desalmados não têm pudor algum em dar aos filhos nomes que farão, no futuro breve, as crianças sofrerem e os adultos se constrangerem. Alguns certamente irão se desesperar. E todos vão sofrer muito.
       
        Ao ler um nome destes nos jornais, vem logo uma tristeza enorme, junto com uma grande indignação, só de pensar no quanto as pessoas sofrem e passam por situações embaraçosas por causa de um nome feio. Começamos a pensar em seguida que deveria haver uma lei que realmente protegesse as pessoas das más intenções ou da falta de amor dos pais na hora de registrar um nome absurdo.

        A dor que as pessoas que carregam nomes feios ou absurdos sentem, no seu cotidiano, só pode ser imaginada, pois é devastadora, a começar pelo fato de a pessoa sentir-se inferiorizada e humilhada.

        Pois então, vamos imaginar. Dona Ainda certamente ouviu muitas “brincadeirinhas” nos seus 75 anos. Pior, muito pior, devem ter sido os 84 anos de Zacarias Mistura. E João Inocêncio alega o quê? Ou nunca precisa se defender?

        E o Frederico Pestana Quintal, passou a vida toda dormindo lá fora e sendo importunado a cada cochilo?

        Mexa-se! , diziam sempre ao José Parada, certamente.

        O Arsênio quase se convenceu que era meio venenoso. E a Vanessa Cebollada deve ter ouvido um milhão de vezes que alguém estava chorando porque ela se aproximou, simplesmente...

        Vamos imaginar o quanto a Maria Granja foi importunada, ovos, penas, aves (“tem muito pintinho na sua granja?”). E a Sarleide, quanto gracejaram perguntando quantas sardas e aonde?

        Você está muito branca, Dourilene...

        É a vera, Veriane?

        Ai de quem mexer com o Adalberto Aide...

        Quando falavam “seja benvindo” ao Benvindo Bispo era apenas uma brincadeirinha?

        Ao Alexando com certeza perguntavam aonde ele perdeu o erre. E quanto vale mesmo o Valiengo?

Ao Antonio Firme perguntavam o óbvio. Mas pense bem
o quanto deve ter sofrido a Eduvirgens...

        Todo Jacinto é um alvo, obviamente. O que o Tomás Jacinto Raposo deve ter escutado... E os filhos da Maria Cristina, que receberam os nomes de Eva e Adão?     

        O José Liberino deve ter pago por mais pecados do que os que cometeu. O Santinho Machado nem podia fazer nada de errado...

        Jasmelina plantava jasmins? Você está neurótica, Neuraci?

        Cândida, faça isso candidamente...

        Qual flor você gosta mais, Arnaldo Jardim?

        Nem dá para imaginar o que passou o João Picolo.

        Tá com medo, Valente?
       
        Tenha modos, João Cavalar...

        O que você está inventando, Silvia da Invenção?

        Tá isolada, Isolina?

        Marciano, você veio de onde?

        Leopardo Francisco, pare de rugir!

        Coleta coleta o quê?
       
        Kassiele caça?

        Tá vadiando, Vladia?

        E todas as Raimundas, então...

        A triste verdade é que muita gente (mesmo) não resiste à tentação de brincar com o nome dos outros. E, brincando brincando, fere, machuca, ofende. Imagine alguém com o sobrenome Choppe (existe de verdade!), ou alguém de nome Adelícia, ou Alucinéia, Imperatriz, Santa, Julinha (o que você vai ser quando crescer?), Natalício, Manuel Padeiro, Valente, Damocles (onde está a sua espada?), João Doutor, Clóvis Uva, Semedo, Natalício ou Taboada...

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