Lane Valiengo
Os nomes feios e absurdos invadiram o Brasil nas últimas décadas, multiplicando-se de forma assustadora. Pais desalmados não têm pudor algum em dar aos filhos nomes que farão, no futuro breve, as crianças sofrerem e os adultos se constrangerem. Alguns certamente irão se desesperar. E todos vão sofrer muito.
Ao ler um nome destes nos jornais, vem logo uma tristeza enorme, junto com uma grande indignação, só de pensar no quanto as pessoas sofrem e passam por situações embaraçosas por causa de um nome feio. Começamos a pensar em seguida que deveria haver uma lei que realmente protegesse as pessoas das más intenções ou da falta de amor dos pais na hora de registrar um nome absurdo.
A dor que as pessoas que carregam nomes feios ou absurdos sentem, no seu cotidiano, só pode ser imaginada, pois é devastadora, a começar pelo fato de a pessoa sentir-se inferiorizada e humilhada.
Pois então, vamos imaginar. Dona Ainda certamente ouviu muitas “brincadeirinhas” nos seus 75 anos. Pior, muito pior, devem ter sido os 84 anos de Zacarias Mistura. E João Inocêncio alega o quê? Ou nunca precisa se defender?
E o Frederico Pestana Quintal, passou a vida toda dormindo lá fora e sendo importunado a cada cochilo?
Mexa-se! , diziam sempre ao José Parada, certamente.
O Arsênio quase se convenceu que era meio venenoso. E a Vanessa Cebollada deve ter ouvido um milhão de vezes que alguém estava chorando porque ela se aproximou, simplesmente...
Vamos imaginar o quanto a Maria Granja foi importunada, ovos, penas, aves (“tem muito pintinho na sua granja?”). E a Sarleide, quanto gracejaram perguntando quantas sardas e aonde?
Você está muito branca, Dourilene...
É a vera, Veriane?
Ai de quem mexer com o Adalberto Aide...
Quando falavam “seja benvindo” ao Benvindo Bispo era apenas uma brincadeirinha?
Ao Alexando com certeza perguntavam aonde ele perdeu o erre. E quanto vale mesmo o Valiengo?
Ao Antonio Firme perguntavam o óbvio. Mas pense bem
o quanto deve ter sofrido a Eduvirgens...
Todo Jacinto é um alvo, obviamente. O que o Tomás Jacinto Raposo deve ter escutado... E os filhos da Maria Cristina, que receberam os nomes de Eva e Adão?
O José Liberino deve ter pago por mais pecados do que os que cometeu. O Santinho Machado nem podia fazer nada de errado...
Jasmelina plantava jasmins? Você está neurótica, Neuraci?
Cândida, faça isso candidamente...
Qual flor você gosta mais, Arnaldo Jardim?
Nem dá para imaginar o que passou o João Picolo.
Tá com medo, Valente?
Tenha modos, João Cavalar...
O que você está inventando, Silvia da Invenção?
Tá isolada, Isolina?
Marciano, você veio de onde?
Leopardo Francisco, pare de rugir!
Coleta coleta o quê?
Kassiele caça?
Tá vadiando, Vladia?
E todas as Raimundas, então...
A triste verdade é que muita gente (mesmo) não resiste à tentação de brincar com o nome dos outros. E, brincando brincando, fere, machuca, ofende. Imagine alguém com o sobrenome Choppe (existe de verdade!), ou alguém de nome Adelícia, ou Alucinéia, Imperatriz, Santa, Julinha (o que você vai ser quando crescer?), Natalício, Manuel Padeiro, Valente, Damocles (onde está a sua espada?), João Doutor, Clóvis Uva, Semedo, Natalício ou Taboada...
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