Lane Valiengo
Nada na vida é aleatório, nada é de graça. Nem mesmo nascer: abrir os olhos pela primeira vez implica em assumir responsabilidades. E nem adianta argumentar que ninguém pediu para nascer, pois o mundo nunca será uma engrenagem justa. Ninguém é inocente: todos estão no mesmo barco, todos fazem parte da espécie humana, ninguém vive isolado, descompromissado. Por mais que o nosso insistente individualismo gere uma grande dose de egoísmo, estamos num coletivo, querendo ou não.
Há um compromisso explícito que cada um de nós carrega por toda a existência. Um compromisso cósmico, planetário, que faz parte da nossa própria essência. Trata-se do compromisso com a evolução social, com o aprimoramento de cada um e de todos. Viemos para realizar, para evoluir. Viver à toa, alienado, é um crime contra a humanidade e contra nós mesmos. Um desperdício de matéria divina, de energia, um desperdício da força vital que nos move. Nenhum homem é uma ilha.
Este compromisso manifesta-se com maior intensidade no respeito que devemos aos nossos ascendentes, aos que vieram antes e deixaram uma herança feita de sentimentos, conhecimentos, vibrações, ensinamentos. É a nossa linhagem, que devemos preservar, aprimorar e honrar, sempre.
É isso que nos define como seres humanos, como pessoas e como sociedade.
Linhagem é a continuidade, a raça, a geração, estirpe, família, os antepassados e os futuros descendentes. É aquilo que nos situa no mundo, que define quem somos, como agimos, que valores carregamos.
Parte essencial da linhagem é o nome de família, que aqueles que nos antecederam nos legaram generosamente. São nomes construídos através dos tempos, passando por variações, decantações e gerações, acumulando conhecimentos, sabedoria, experiências, histórias, memórias, escolhas, reflexões, emoções, relacionamentos, decisões, lutas, vitórias e derrotas. Tudo é aprendizado acumulado.
Desrespeitar a força da linhagem é ignorar nossos maiores tesouros, a riqueza de viver. É renunciar ao esforço coletivo, a esperança permanente de fazer as coisas cada vez de uma forma mais consciente, para que todos vivam dias melhores. Viver melhor consigo mesmo e com os outros, todos os outros. É aceitar viver no reino da ignorância ou da má fé, da maldade, da crueldade. É abandonar a condição humana.
Uma das maiores injúrias que se pode cometer contra os antepassados e a nossa linhagem é escolher nomes absurdos, feios ou de mau gosto para os nosso filhos, para aqueles que devem dar continuidade à cadeia molecular familiar. É uma injúria, é o escárnio, é a zombaria e o desprezo para com todos os nossos ascendentes. É obstruir a evolução.
É contribuir para que o mundo seja pior, é alimentar a involução, a decadência, a regressão.
Diversas religiões e correntes de pensamento pregam o respeito absoluto aos antepassados. Não se trata de nenhum tipo de submissão, mas sim de assumir o compromisso de honrar aqueles que nos geraram e nos deram uma herança genética e social.
Por tudo isso, respeite a sua linhagem. Honre a sua linhagem. Preserve a sua linhagem, preserve o seu nome e a sanidade dos nomes que serão dados a quem nos suceder. Buscar a compreensão do mundo e da condição humana é cultivar os nossos genitores, é agradecer pela convivência com aqueles que colaboraram para o nosso crescimento.
Não desperdice aquilo que milhares de pessoas se esforçaram para nos deixar como legado, com o objetivo de nos fortalecer, nos preparar, nos dar condições para viver melhor.
Mas se o ceticismo for grande demais, respeite a sua linhagem ao menos para que a força e a fúria (quando há desrespeito) dos antepassados não crie obstáculos e dificuldades para o nosso cotidiano, para a nossa vida. Pois linhagem tem força, de verdade. Não ofenda a sua linhagem escolhendo um nome feio para seus filhos, pois isso enfraquece a linhagem, cria vibrações negativas e sentimentos falsos. Não inviabilize a sua trajetória, a sua história pessoal. Não brinque com a decência que os nomes devem conter. E não dificulte o futuro da sua própria linhagem escolhendo um nome idiota, um nome feio, um nome bizarro. Pois nada acontece ao acaso, tudo tem conseqüência.
Nada é de graça, mesmo: tudo tem um preço. E a ignorância na hora de escolher um nome sempre sai muito caro.
Lembre-se: linhagem é continuidade e é unidade. Pois somos feitos com parcelas de cada um dos nossos antepassados. Ensine bem as suas crianças: elas vieram de você e elas são você, sendo sempre diferentes, sendo sempre elas mesmas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário