segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os nomes dos comunistas que não puderam tomar posse


Lane Valiengo

         Como seria uma cidade em que a maioria dos vereadores fosse comunista? E se o Prefeito também seguisse a mesma linha? Certamente seria muito diferente. Se a época fosse a década de 40, por exemplo, provavelmente aquela situação poderia influenciar - e modificar - toda a história política de uma comunidade, por décadas e décadas seguidas, com reflexos até os tempos atuais.

         A cidade de Santos quase passou por esta experiência, comprovando a tendência de apoiar as correntes políticas progressivas. Na eleição presidencial de 2 de dezembro de 1945,  o mais votado em Santos foi o candidato do PCB, Yedo Fiúza, que obteve 45,06 % dos votos (sua votação em todo o País foi de apenas 9,17%). E o líder sindicalista Oswaldo Pacheco da Silva obteve 16.301 votos para a Câmara Federal, sendo o mais votado na cidade. Para o Senado, o mais votado foi Luiz Carlos Prestes, com 20.292 votos.

         Em janeiro de 1947, na eleição para a Assembléia Legislativa, dos seis mais votados, quatro pertenciam ao PCB (João Taibo Cardórniga, Zuleika Alembert, Leonardo Roitman e Rafael Sampaio Filho). O mais votado foi o professor Taibo Cardórniga, com 7.992 votos. Para o Governo do Estado, o candidato da coligação PSP/PCB, Adhemar de Barros, alcançou 26.856 votos (61,1%).

         Apesar da forte campanha anticomunista na cidade, Santos passou a ser conhecida como a Cidade Vermelha.

         Em 1947, acreditava-se que o portuário Leonardo Roitman, presidente do Sindicato dos Empregados nos Serviços da Administração Portuária, se elegeria prefeito. Mas as eleições foram suspensas: Santos teve sua autonomia cassada e continuaria a ter somente interventores, fato que se repetia desde 1937, quando o Estado Novo extinguiu todos os legislativos.

         Citado por Alcindo Gonçalves em "Lutas e Sonhos - Cultura Política e Hegemonia Progressista em Santos", Roitman, em depoimento feito em 1980, afirmou que só não foi eleito prefeito porque cassaram a autonomia. "Porque eles viram o risco de um trabalhador ser eleito prefeito da cidade".

         Mas na eleição do dia 9 de novembro de 1947 para a Câmara de Vereadores, a população votou maciçamente nos candidatos comunistas, que se abrigavam no PST - Partido Social Trabalhista, pois o Partido Comunista Brasileiro fora considerado proscrito, tendo seu registro cassado. Os chamados "candidatos de Prestes" fizeram 28% dos votos.

         Leonardo Roitman foi o mais votado, com 2.198 votos.

         De um total de 31, o PST elegeu 14 vereadores, alcançando        9.557 de um total de 35.755 votos.  A legislação da época favoreceu o PST: oito candidatos foram eleitos diretamente e os outros seis entraram porque as sobras eram creditadas ao partido com maior número de votos.

         Os eleitos foram diplomados em 29 de novembro e o estivador José Félix da Silva, voz firme e decidida, discursou em nome de todos. O PST fez uma aliança com o PSB, que tinha dois representantes, e teria maioria na Câmara.

         Na véspera da posse, 31 de dezembro, foi decretada a anulação dos votos dados aos comunistas.

         Em 3 de janeiro de 1948 ocorreu a primeira sessão da Câmara na Sala Princesa Isabel (o novo Paço Municipal foi inaugurado em 1939 e a Câmara fora dissolvida em 1937), com a posse de 31 vereadores, incluindo os 14 suplentes que ocuparam a vaga dos comunistas. Entre eles, Silvio Fernandes Lopes, que mais tarde se elegeria Prefeito com o apoio exatamente das forças progressistas.

         Mas o que chama a atenção é que os nomes dos 14 eleitos não constam dos livros de história, em sua grande maioria (a exceção do ensaio "Jubileu da Câmara Vermelha", do jornalista e historiador Paulo Matos, 1997), nem dos sites oficiais. Não se conta a história deles, não se faz justiça aos homens que a população elegeu mas foram impedidos de assumir. Não foram colocados em nenhuma galeria os seus retratos.

         Nomes que poderiam ter dado à política santista uma face diferente, com característica diversas.

         Foram esse os eleitos em 1947:

         Leonardo Roitman

         Vitório Martorelli

         Manoel Ferreira

         José Felix da Silva

         João da Conceição

         Paulo dos Santos Cruz

         Nelson de Toledo Pizza

         Manoel Teixeira Chaves

         José Reinaldi Simei

         José Alonso Nunes

         Aquilino Camino

         Francisco Rodrigues Dias

         Benedito de Almeida

         Manoel Dias Veloso, o Flor da Praia.

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