terça-feira, 16 de agosto de 2011

O NOME DO CAMINHO MÍTICO


Lane Valiengo

         A colonização do Estado de São Paulo, de boa parte do Brasil e também da América do Sul, deve muito ao Peabiru, histórica e quase lendária estrada que ligava o Litoral à Vila de Piratiniga, no Planalto. Este caminho, que começava nas praias e atravessava a Serra do Mar, seguia em frente, acompanhando o leito do Rio Tietê, embrenhando-se pelo Paraná até chegar aonde hoje está Assunção, a capital do Paraguai. Ali, ligava-se à outra estrada, chegando até Cusco, no Peru, unindo o Litoral Paulista à capital do Império Inca.
         Se não houvesse o Peabiru, a Vila não seria fundada e provavelmente não haveria hoje a cidade de São Paulo, pelo menos no local atual.
         Quando Martin Afonso, após passar por Cananéia, decidiu se fixar em São Vicente, fundando a primeira vila do Brasil, já sabia da existência desta estrada. Mas antes, realizou a primeira “eleição” das Américas, constituindo a Câmara de São Vicente. Depois, foi ver aonde levava aquela estrada. Foi João Ramalho, líder dos homens brancos do Planalto, quem o levou a percorrer o Peabiru, para que conhecesse os campos de Piratininga, aonde vivia o cacique Tibiriçá e sua filha Bartira, personagens marcantes da história do Brasil.
         Quando São Paulo começa a se firmar, o primeiro governador geral, Tomé de Souza, por uma questão de segurança, mandou fechar a estrada.
         Talvez tenha sido um terrível erro estratégico, especialmente porque cortou o contato da gente paulistana - e litorânea, também - com os incas. Nossa história poderia ter sofrido mudanças no mínimo impactantes se o Peabiru permanecesse.
         O traçado do caminho, segundo historiadores, teria sido determinado pelo Pai Sumé, um europeu que seria uma espécie de divindade na terra. Os jesuítas acreditavam que poderia tratar-se do Apóstolo Tomé, o São Tomé. Para “Sumé”, seria apenas uma adaptação linguística.
         Pesquisas de arqueólogos brasileiros tentam identificar ao menos alguns trechos do Peabiru, ou “Caminho das Montanhas do Sol”. Existem relatos de que algumas pegadas de Sumé ficaram gravadas em pedras, em São Vicente e em Santos, no trecho aonde havia uma fonte, no Embaré.
         Trata-se de que uma página valiosa dos primeiros tempos da nossa história. E que merece ser ao menos registrada e contada.
         A trota perdida do início de tudo, no Brasil, era também alcançada a partir de Cananéia e do Porto dos Patos, em Santa Catarina.
         Bem que poderiam ser desenvolvidas pesquisas sobre o “Peabiru”, inclusive com a fixação de marcos em locais prováveis, assinalando a existência desta estrada, dentro de concepção que deixe claro que a Ilha de São Vicente não apenas foi responsável pelo início do Brasil mas, também, levou através do Peabiru a colonização e o desenvolvimento econômico/comercial ao restante do País.
          Em busca da “Terra do Sol” existente do outro lado das “Montanhas” (a Serra do Mar e os Andes), restaram apenas sonhos. E lendas.
         Seu nome, Peabiru, significa em tupi-guarani, "caminho" (pe) "do gramado amassado" (abiru), pois era ponteado por certa erva miúda. Pesquisas históricas estimam que o caminho poderia ser utilizado nos anos 400 ou 500 D.C. Como prova da presença dos incas, existiam  "pedras orientadas, de uso astronômico, e de relógios solares". Seria uma ferramenta para uma futura projeção dos incas sobre o Oceano Atlântico.
         O Império Inca chegou a se estender por sete países, como conhecemos hoje as terras então sob seus domínios.

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