segunda-feira, 18 de julho de 2011

O futebol mudou. Os nomes também.

Lane Valiengo 

         Antes eram Vavá, Didi, Pelé, Mané, Pepe, Zito, Dida, Jajá, Zico, Benê, Pinga. No máximo, um Pagão, um  Tostão. Nomes curtos para quem tinha um grande futebol. Memorização fácil, passes rápidos, dribles instantâneos, arte pura. Sim, eram meros apelidos Sim, haviam nomes maiores, como Zizinho, Leônidas, Rivelino. Mas aos gênios tudo se perdoa. Sim, alguns eram nomes compostos, como Nilton e Djalma Santos. E é certo que ainda temos um Kaká, duas sílabas só, mas a escrita mais "sofisticada", com dois kás.
         O mundo mudou, a bola rolou, o futebol se endinheirou e estabeleceu um novo tipo de comportamento entre os jogadores. Passou a ser uma das principais e mais rentáveis formas de ascensão social para os jovens das classes mais sofridas. Com o tempo, muito mais que noventa minutos, a falta de preparo se manifesta e os novos e milionários jogadores de bola passaram a desenvolver certos hábitos bastante peculiares. A demonstração ostensiva do dinheiro, na forma de carrões, roupas incrementadas, jóias e festanças, torna-se corriqueira. Muito dinheiro rolando, empresários pululando e acenando com contratos multimilionários.
         Não é de se estranhar: foi assim que o liberalismo total ensinou, "vamos faturar! vamos ostentar! vamos esbanjar! Eu sou mais eu, eu posso tudo, ninguém me segura, eu compro, eu compro"... Mas a questão é que esportistas viraram grandes exemplos de comportamento e de  prestígio. Como vencer na vida chutando de trivela e despertando a fantasia interior da torcida. Assim como uma educação voltada ao despertar cultural não existe, muito menos são ministradas às crianças noções educação financeira nas escolas (ainda estamos na fase de será que teremos vaga na escola? será que vai ter professor? e a merenda?).
         Com o despreparo jogando nas onze, os futuros craques só absorvem a linguagem e o comportamento dos boleiros e dos malandros (alguém aí falou em traficantes?), infelizmente. A mídia faz aquele seu papel de reproduzir a futilidade e assim assistimos à glorificação da falta de conhecimento ("viram como sou esperto, subi na vida sem estudar..."). Passa a valer o vale tudo, a esperteza, a falta de sentido comunitário, a ausência da contribuição social e, te esconjuro!, da participação política. 
         A minimização dos valores éticos e sociais gera a valorização de uma
subcultura, guiada tanto pelo mau gosto quanto pelos estrangeirismos sem sentido. Entre vários outros resultados danosos, surge a mania pelo nome "estrangeirizado" ou a invenção de vocábulos tortos, disfarçados de nome.
         "Abaixo a violência no jogo dos nomes!", bradaria uma torcida consciente, se houvesse. Mas o fato é que, assim como ocorre com milhões de crianças, os jogadores de futebol igualmente provocaram enxurradas de nomes defeituosos ou engraçadinhos, para dizer o mínimo do mínimo. Recentemente jogou pelo interior paulista um atacante chamado Creedence. Pelo menos, não é ofensivo. Mas o que agride até as dobras dos ouvido é ver que os gramados foram invadidos por nomes como Acleisson, Gladyson, Gladestone, Rycharlisson, Joilson, Keirrison, Madson, Alessandro, Vilson, Jadson, Kleberson, Maicossuel e até Wallyson (que bate um bolão, certo?).

         E tem mais: Elielson, Jonathan, Avise, Fabel, Uésley, Reidner, Rever, Sidiclei e outros mais.
         A falta de informação (e a falta de preocupação com a importância informação e do conhecimento, em todos os níveis) provoca degradação, é fato. A redução do repertório cultural resulta em violência vocal e vocabular. E daí aparecem as excrecências nominais. Ou seja, o que mais tem no mundo hoje (ou pelo menos no mundo brasileiro) é nome feio.
         E a síndrome da ostentação revela-se mais ainda nos nomes compostos desse tipo, que nada mais são que nomes feios em dobro.
         Alguns desse nomes serão imortais, enquanto jogarem,  por culpa do futebol. E irão se espalhar cada vez mais, como os Uóssington ou os Jequiçon.
         E ainda haverá quem tenha saudades do Alfinete, do Bobô, do Sicupira e do Cesar Cambalhota. Apesar dos pesares, no passado também haviam nomes estranhos, como Vacaria, Caçapava, Odirlei, Vampeta, Maritaca, Adoilson, Uidemar, Garrincha (ah, que heresia....), Macula e até Raudinei, o maior e mais injustiçado centroavante surgido no Brasil...
         Mas, mesmo levando-se em conta que tudo começou em 1894 com um brasileiro de nome inglês, Charles Miller, o negócio é que hoje a situação atinge níveis alarmante e tem perna de pau aparecendo com o nome "Lennon" na camisa.
         Mas estranho na verdade é existir um zagueiro chamado Cortês...

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