segunda-feira, 6 de junho de 2011

UMA COPA DE MANDELA PRÁ NÃO MUDAR DE NOME

Paulo Matos

Queimaram a língua os acadêmicos, pois o Futebol Association mudou a história. Os fatos recentes da África do Sul revelam como é a maior de todas as Copas. Mostrando os mistérios da coragem, da resistência, da autodeterminação, da coragem dos Africanos do Sul, que souberam, com o heroísmo do evento mágico, provar a alegria irremovível de seu povo.

Povo resistente, alegre. Dançarino na festa e na tragédia com dança e música. A eles se impõe tragédias sucessivas há séculos a desde os invasores africâneres, holandeses que vieram roubar seus diamantes.

Eles não lograram se submeter à alegria de seus ditames, a suas limitações e assassinatos, torturas, se impuseram sem violência saindo às ruas por seu líder maior, Nelson Mandela, preso por 27 anos, sem aceitar ofertas de liberdade que não fossem estendidas a seu povo, 90% do país submetido a 10%.

Não, não poderia mudar de nome uma copa que retrata esta alegria esfuziante do “Vai passar” vitorioso sobre dirigentes que no passado apoiaram Hitler, torturaram e mataram. Mandela os convidou a todos para compor o novo governo, sem vingança, em uma solução inédita no mundo.

São eles heróis do bispo africano Desmond Tutu, aliado de Mandela, que certa feita brincou com ele que suas camisas carnavalescas deveriam ser mais sérias, ao que ele retrucou, em tom jocoso, que surpreendente era ver um homem como o bispo andando de saias.

Como os ingleses dos Foles, que agora querem calar as vuvuzelas, desrespeitando a autonomia local do modo que fizeram por éculos no império em que o sol jamais se punha, da Índia, da África, que fez a Revolução Industrial com ouro brasileiro.

Não, não poderia mudar de nome nem de cor este continente de Mandela, negro, forte, alegre, escravizado, humilhado e ofendido, condenado e que tem a maior alegria da terra, que não se vinga nem guarda rancor.

Lá não existem só belas praias, nem só belas mulheres ou montanhas, mas belos caracteres, belos exemplos de vontade e determinação. Não, eles não poderiam mudar de nome, só se precisassem. Com a final de uma curta Copa de apenas 28 países realiza-se o milagre da reportação de uma espécie que conservou e aumentou seu brilho.

Reportam uma realidade reversa à dos dominadores dos vírus brancos, matadores, vingadores, porque parte dos dominados, dos napoleões vencidos, dos pigmeus do bulevar, que um dia tiveram direito à alegria geral, a uma ofegante epidemia que se chamava carnaval.

Como fazer agora os De Klerk do governo, que usava uma similar suástica para justificar suas maldades, que fez barbáries sob condenação mundial, para explicar esta tragédia imposta sobre tanta gente feliz que não aprendeu a usar armas e nem bombas para se proteger e se vingar, que se deixou abater para poder comemorar a festa, sua verdadeira índole?

Com suas roupas coloridas, seus cabelos, suas danças, suas músicas coletivas, os bafana-bafana, chalalás da história para quem a vitória é um mero detalhe? Fala sério. Eles vieram fazer história e a proposta de uma sociedade horizontal e igualitária que a cada dia ensina lições...

Não, eles não precisam mudar de nome, não guardaram mágoas nem lembranças amargas, tiveram força. Mas se precisassem, seriam os primeiros a fazê-los, pois é grande sua coragem diante do novo e do inédito, magnífico seu ímpeto e sua vontade.

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