segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os nomes da orla das praias de Santos

Lane Valiengo

            No início, só havia um nome: a avenida da orla das praias de Santos, São Paulo, era denominada somente Bartolomeu de Gusmão, em toda a sua extensão. A “Praia da Barra”, como era conhecida, serviria para homenagear um dos mais célebres santistas, o “Padre Voador”, percussor da aeronáutica no mundo, o inventor cerebral, o intelectual, nascido na vila do Porto de Santos em 1685.
                  O nome foi oficializado pela lei nº647 de 1921, que só entrou em vigor em janeiro de 1922. Originalmente, trata-se de uma iniciativa datada de 1914 do então vereador João Manuel Alfaia Rodrigues Júnior, que hoje tem seu nome nas placas de uma rua que atravessa o Bairro do Embaré e chega à Aparecida e Ponta da Praia, sem dividir território algum.  O Prefeito era o Sr. Coronel Joaquim Montenegro, que igualmente viraria nome de avenida,  mais tarde.
                  Da mesma forma que foi perseguido pelo Tribunal da Inquisição, Bartolomeu Lourenço de Gusmão também sofreu “ataques”, perdendo terreno e sendo obrigado a dividir a avenida das praias com mais três nomes.
                  O trecho correspondente à Ponta da Praia recebeu o nome de Almirante Saldanha da Gama em 1927, após longa batalha parlamentar. Isso porque havia a iniciativa de dar-se ao trecho a denominação de “Jaú”, em homenagem aos tripulantes do hidroavião que realizou a primeira travessia sem escalas do Atlântico Sul, em 1927. Entre simples porém valentes aviadores e um almirante, ganhou este. Questão de patente e prestígio. Herói da Guerra Cisplatina e da Guerra do Paraguai, Luís Felipe Saldanha da Gama, nascido em Campos, Rio de Janeiro, em 7 de abril de 1846, faleceu em Campo do Osório, Rio Grande do Sul, em junho de 1895. Morreu em combate, durante a Revolução Federalista.
         O vereador Alfaia Rodrigues certamente gostava muito de dar nomes às ruas e avenidas. Foi dele também a ideia de dar ao trecho entre as avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, o nome do grande poeta Vicente de Carvalho. Batalha injusta: Bartolomeu morrera há séculos. Vicente, uma espécie de ícone da alma e do comportamento santista, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, ainda mantinha sua lembrança na mente de todos. Quando morreu, em 22 de abril de 1924, provocou comoção intensa. Seu túmulo no Cemitério do Paquetá foi considerado como “Monumento Nacional” e ninguém poderia esquecer que foi ele quem conseguiu que as praias de Santos, diante da ameça de arrendamento, fossem decretadas patrimônio eterno do povo.
         Pelo menos, o Padre Bartolomeu estava em boa companhia.
         O que viria depois é que complicou tudo: decidiu-se que o trecho entre a Avenida Ana Costa e a Divisa com São Vicente passaria a se chamar Presidente Wilson, em homenagem ao estadista americano Woodrow Wilson, figura emblemática das disputas diplomáticas ocorridas logo após a Primeira Guerra Mundial. Logicamente, o Sr. Alfaia Rodrigues e o Prefeito Montenegro estavam presentes ao processo de discussão. Diga-se, a bem da verdade, que a proposta foi do Vereador Heitor de Morais. Inicialmente, ele pretendia dar o nome de Wilson à Avenida Ana Costa, o que no mínimo seria um crime de lesa-memória e de excesso de estrangeirismo.
         Para que se preservasse o nome de Dona Ana, Wilson invadiu mais um trecho da orla, reduzindo os domínios de Bartolomeu. Ah, esses americanos...
         E acabou que, caso notável no mundo da lógica e da praticidade, uma só avenida tem hoje quatro nomes diferentes.
         É muito nome, não é mesmo?
        
(Obs.: sinceros agradecimentos ao grande jornalista e pesquisador santista Olao Rodrigues e as informações contidas no livro “Veja Santos”. Olao também virou nome de rua).

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