segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nheco é o nome dele

 Lane Valiengo

         O corpo balança no meio da rua, entre os automóveis, as motos, as vans. Carretas e caminhões passam perto, procurando um cais para despejar cargas pesadas. A voz sai forte, chamando os motoristas, avisando que existe uma vaga para estacionar. Uma vaga vale ouro ou, pelo menos, alguns trocados. Ainda mais no Centro de Santos, histórico e  caótico.
        
         Como se o piso de paralelos fosse um universo particular e os trilhos do bonde fossem vias estelares, ele anda por ali parecendo flutuar acima dos pecados da humanidade. Nheco está em seu ambiente, entre buzinadas, freadas e risadas.

         Lá se vão mais de trinta anos trabalhando ali na Praça, orientando motoristas de todas as idades e todos os perfis. Nheco não é um qualquer, um mero flanelinha, não senhor! Ao contrário: nunca exige dinheiro de ninguém, as pessoas dão porque querem e porque são bem tratadas. Quando elas precisam, Nheco sai correndo para comprar uma folha de Estacionamento Regulamentado.
        
         E no meio da rua movimentada, Nheco dá um show...

         Tanto tempo assim, e não falta gente para confiar nele: deixam a chave dos carros na sua mão, às vezes pedem para que ele estacione  e saem apressadas. Nheco é de confiança, dizem todos. Assim como os seus parceiros, o Adilson, que fica pela manhã, e o Carlinhos, que atualmente está trabalhando em São Bernardo, com um parente. Por isso, Nheco anda trabalhando demais.

         Nheco é apelido, é lógico. O nome mesmo é Juraci, mas poucos sabem disso. O tempo passou, a praça mudou, o Centro respirou novos ares e todos viram o jovem Juraci envelhecer. Desde os dez anos que ele frequenta a praça, vivia subindo na estátua dos fundadores do Porto. Aprendeu a dirigir ali mesmo, num Fusca 62. Hoje está cinquentão. Quem diria, hein? Bem, a barba meio grisalha diz, sim.

         O interessante é que ser chamado de Nheco é, para ele, algo totalmente normal. O apelido subjugou o nome. Normal....
        
         Só não vale a pena querer saber de onde veio o apelido. Trata-se, com o perdão da expressão, de uma questão familiar, que envolve uma cama de molas, que fazia barulho...

         Mas isso é uma outra história.

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