segunda-feira, 9 de maio de 2011

“deram-me um nome deram-me pertence-me” (Xavier Zarco)

Lane Valiengo

deram-me um nome deram-me pertence-me
mas pertence-me
não por me terem dado
mas porque eu o fiz

o nome que me deram
e que me pertence
não corresponde ao nome a que o rosto
este visível rosto responde
virando-se
quando algo escuta

é outro o nome
de essência diversa

aliás o rosto é como uma pedra
exposta aos elementos
sujeita à erosão no tempo
e com o tempo
em constante mutação

nome e rosto
aqueles que aprendemos como nome
e rosto
têm um templo
este corpo
onde coabitam
para o olhar do outro
um templo que se consome
a si mesmo

mas o nome prevalece
como um deus sereno
nunca sentido
definido ou nomeado
e por isso puro
um deus sem templo
essencial.



          Xavier Zarco é o pseudônimo literário de Pedro Manuel Martins Baptista, nascido em 4 de outubro de 1968 em Coimbra, Portugal. Seu 28º livro, Sonho de Benta de Aguiar seguido de Fragmentos de Hipocrene, foi lançado no Brasil em março de 2011, pela RG Editores, dentro da Coleção Alumbramento, dirigida pelo também poeta Álvaro Alves de Faria.

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