sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mudar prá que?

Paulo Matos

Sim, há os que não mudam porque acham que já se faz tarde. Na desesperança das frustrações obtidas com o mau desempenho em várias atividades colou-se o fracasso. E esse mau desempenho na maioria das vezes seja por inadaptação ao exercício funcional, ou seja, não era aquilo o que eu queria fazer.

Você, com esse seu nome era o homem errado a hora errada, no reverso da frase-padrão. E o que provocou esta sensação de roupa apertada demais foi um detalhe, seu nome, por exemplo.

O nome era longo demais ou hilário demais e você ganhou logo um apelido que detesta, pode ser “xexéu” ou “xuxú”, para dizer o menos. E cada vez que você ouve aquilo sente arrepios. Seu ofício lhe obriga a relacionar-se e atender pessoas, então todos lhe chamam daquele jeito...

Nem mesmo a namorada recém-conquistada escapa do tipo que lhe irrita. Um dia ela telefona para seu serviço e alguém lhe chama “Ô xexéu! Telefone!” e pronto, toda uma montagem que você fez vai pro espaço. Seja você o Aristófanes da comédia ou o Sófocles da tragédia.

Quando você vai ao encontro da bela, perfumado, arrumado, penteado e com palavras belas na boca para dizer a ela, ouve um “Xexéu” e, desarrumando a gravata, apronta-se para um esculacho. Você já tem mais de trinta anos e está sendo vítima desse título pouco honroso durante boa parte deste tempo, de sua vida, de sua trajetória.

Você simplesmente não agüenta mais, sente necessidade de mudar de vida, de lugar, de roupas, de cidade, mas o que você precisa mudar não é isso. Você precisa sim mudar é de nome, que afinal é de rótulo, pois você não é nenhum xexéu para carregar nas costas algo que não lhe acrescenta e sem lhe subtrai em todas as ocasiões em que você se apresenta, seja pela manhã no serviço ou à noite em atividades sociais.

Quem diria uma visita ao Dr. Gerson, o chamado “cirurgião plástico do nome” e está tudo resolvido. Seu nome é seu direito e você pode mandar nele, não o contrário, você não tem que apanhar dele e achar que “isso é coisa do destino”.

Você pode e deve sim mudar de nome na medida em que ele se torna através dos tempos o argumento de face para sua formatação em tempos de internet, de apresentação anterior à presença quando se escolhem as pessoas não pelo que elas são, mas pelo que parecem.

Não adianta dizer “tristes tempos estes” porque isso atesta uma realidade, mas não a transforma nem qualifica a intenção do que você acha que deveria ser. Haja conscientemente na qualificação do que você tem de mais importante, que é a sua foto 3x4, que se não tiver um título bom irá ser desprezada como um Xexéu qualquer.

É inconsciente, sobretudo para o brasileiro, ironizar o próximo. E todos agem assim, com querer ou sem querer. Ao se apresentar como Xenofonte ou Alcebíades, não há como evitar mesmo para diretores de teatro grego: é sarro na certa. E a cada um que este primeiro sujeito vai lhe apresentar ele vai destacar essa sua “particularidade”.

Esta “particularidade” que já lhe é sinistra, aborrecia, trágica como uma peça de Sófocles – estes que representaram o que de mais inteligente a cultura criou, mas hoje estão na linha do ridículo. É o juízo comum, o que fazer? Matar a todos não adiante, porque após o primeiro ou o segundo vão descobrir este Xexéu matador. É mais fácil mudar o nome e alterar seu destino, mudar a história e fazer o futuro.

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