Lane Valiengo
Provavelmente o nome “Lee” é o mais usado no planeta. Somente na China, cerca de 8% da população compartilha esse nome. Como os chineses são aproximadamente 1,3 bilhão, no mínimo existem mais de 80 milhões de pessoas que, entre nome e sobrenome, chamam-se “Lee”. Para complicar, há casos em que o nome e o patronímio são, simplesmente, o mesmo: o que não faltam são “Lee Lee” ou mesmo “Lee Lee Lee”.
Agora, imagine só o que os “Lees” provocam de confusão e de problemas burocráticos...
Por isso mesmo, a China está fazendo uma campanha, para que os eventuais candidatos a um “Lee” qualquer escolham outro nome, de preferência diferente, se não for possível algo único e pessoal.
Levando-se em consideração uma população gigantesca, como é a da China, a variedade de nomes , digamos, à disposição dos interessados é, na triste realidade, muito pequena. Além do “Lee”, outros dois nomes também são bastante populares: Wang e Zhang. Os três juntos passam dos 270 milhões de pessoas. O que, em síntese, equivale à população inteira da grande maioria dos países. Só os “Lees” representam o dobro de cidadãos espanhóis, que somam cerca de 40 milhões.
Para complicar ainda mais, existem em abundância certas variações, como “Li”, “Ly”, “Lei”, “Lê”, “Lei” e “Lai”, que se espalharam também por países próximos, como os dois Vietnans e as duas Coréias, sem falar no Japão.
Por mais paradoxal que possa ser, “Li”, em chinês, significa razão ou lógica...
Falando sério, esta evidente e massacrante massificação de alguns nomes (como Smith ou José, como Silva e João, por exemplo) é o reflexo cruel do processo de “despersonalização” das populações. Quando a individualidade é sufocada ou auto-reprimida, a partir de um nome absolutamente comum, a personalidade se anula e o pensamento crítico praticamente desaparece, enquanto todos se comportam exatamente igual aos outros. E o sistema se reproduz com facilidade.
A comunidade, em sua maioria, deixa de reagir aos excessos do Poder e às injustiças, não exige seus direitos mais básicos e se conforma com uma existência feita de sofrimento após sofrimento. É assim, também, que ocorrem os processos de dominação do Poder (seja qual for a sua natureza, política, econômica, cultural...) sobre os povos.
Para os eternos donos do Poder, seria melhor que todos, absolutamente todos, tivessem o mesmo nome, anulando as individualidades e derrubando os espíritos. Pois é a soma das individualidades que cria a força do coletivo!
A persistir essa situação, chegaremos ao ponto de os nomes serem substituídos por números, meros números. Olá, um milhão trezentos e quarenta e cinco! Como vai, treze bilhões duzentos e vinte e cinco?
Por aí, dá para perceber quanto mal podem fazer os nomes comuns, sem imaginação e sem personalidade própria!
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