segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A VADIA RAIMUNDA (Baseado em fatos reais)

Paulo Matos

- Uma nova mulher
 Era como chamavam, entre risos atrás dela, Abadia Raimunda. Por causa do nome, abandonou empregos e escola. Começou uma faculdade e a deixou, exposta ao ridículo onde fosse que estivesse. Ela se tornaria uma nova mulher, como cantava Simone.
Seu nome era muito grande a oportunidade predileta dos brasileiros de fazer uma brincadeira, sem avaliar os possíveis impactos que isto teria sobre os atingidos. E Abadia, um nome que identifica a igreja dirigida pelo abade, raiz de abadia, dignidade, cargo do abade. Nada que o incrimine. Mas os tempos... Vá se chamar “Abadia”!
Aparentemente, sorriem. Abadia já não mais sorria, vivia a tragédia. Não se cuidava esteticamente, não estudava, não tinha relações de amizade. Foi alguém, no caso um advogado que fazia com ela uma transação imobiliária, que mudou sua vida.
Abadia estava tão reclusa que estava a ponto de desistir da transferência de um imóvel caso precisasse ir ao Cartório de Registro, o que era necessário e inexorável.  Era preciso dar-lhe esperança e fazer mais, concretizar esta esperança.
E dizer que existem pessoas que desprezam a questão do nome, do símbolo, da referência, do retrato inicial e falado! É dizer o nome e de imediato a mente humana constrói a imagem em cores e detalhes, formas magras ou gordas. Imagine como se formula a construção da imagem de uma pessoa chamada... Abadia Raimunda!
Bem, a necessidade de alteração da identidade de Abadia vislumbrou-se clara e lógica para Gerson Martins, nosso cirurgião plástico dos nomes, inclusive para que ela fosse ao Cartório sacramentar a transação imobiliária. E assim se fez. O doutor Gerson Martins promoveu a alteração de seu nome civil: Abadia Raimunda hoje é doutora Vânia, feliz da vida!
Este processo mudou sua vida: ela reingressou na universidade, evoluiu profissionalmente, tornou-se referência no setor que atuava após adotar oficialmente o nome que usava para relações apenas com vizinhos e amigos próximos.
Abadia Raimunda, antes objeto de eternas e cansativas brincadeiras que eram como ironias sobre um defeito físico, maculada e triste, transformaram-se. Foi para a academia de ginástica, tratou dos cabelos, estudou, compôs novas relações sociais.
Já não existia aquela que como um monstro só aparece para os esquizofrênicos e a levava lentamente à infelicidade. Expulsou estes seres do seu convívio, lançou-os à distância para a terra do nunca, jamais.  Agora era igual a Ana, Regina, Fátima, Leda, Valéria, Telma e Sandra. Eram iguais. É tão difícil estabelecer a igualdade?
Ao final, diante da transformação mágica que se operava diante de seus olhos e sentidos, a antiga Abadia desmanchou-se em agradecimentos ao operador jurídico que, inclusive, a levou ao cirurgião plástico dos nomes. Para completar, mudou de vida, já que era uma nova mulher.

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