terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

JOSÉ DA SILVA


Paulo Matos

Nada contra o Zé: mas quantos ostentam o garboso nome de José da Silva neste país? Alguns milhares. Como exemplo do nome comum que não só traz problemas como não qualifica, não apresenta nem acrescenta, não indica nem traduz o personagem. É um designativo oco, ousamos dizer, que logo se torna “Zé” e dificilmente sai desta rotina do bar da esquina. Mas para quem quer construir a imagem, é possível mudar.

Há quem queira mais, inclusive muitos “José da Silva”. E isto é possível, na tarefa da construção da imagem. Quem garante é o advogado Gerson Martins, que tem centenas de casos similares em que prova o dano do “nome feio” e o prejuízo profissional e social causado.

José, o nobre marceneiro de papel indefinido na geração de Cristo, marido da Virgem Maria, mas não pai de Jesus que nasceu por Deus, o pai, na trindade completada pelo Espírito Santo, como nos conta a tradição cristã, não teve culpa. Portugal era e é um país de extrema cristandade e lá os “Josés” proliferaram e se transferiram para cá.

Houve um tempo em que muitos sobrenomes tinham que ser mudados para não caracterizar etnias e os “Silva” proliferaram junto com os “Josés”, resultando na multidão que conhecemos hoje dos “José da Silva”.  

Sem análise de conceito sobre a beleza ou elegância do nome tão comum, importante é se retratar sua ausência de significado, que não ajuda a construir uma imagem, seja ela positiva ou negativa, forte ou fraca, no muito isenta de detalhes. É Zé e pronto. E os Zés vão para o fim da fila.

Por isso existem hoje tantos José Paulos, José Robertos, José Antonios, José Gersons como o advogado que evocamos a lembrança com operador de mudanças de nome, capaz de “modernizar” esta face hoje imprescindível do nome como maior patrimônio pessoal do cidadão, maior do que os currículos, formações e diplomas.

Nada credencia o engenheiro José da Silva ou advogado José da Silva, ao menos pelo nome. E não fomos nós que decretamos isto, foi o tempo e a qualificação da mensagem, agora construída em ícones, símbolos, entre outros. O site http://www.overmundo.com.br/banco/nomeze-sobrenome-do-ponto-de-onibus dá a síntese do Zé, no conto “Nome: Zé. Sobrenome: do ponto de ônibus”:

“Na mão direita uma pasta de couro preta, envelhecida e de alças enferrujadas, combinando com a calça marrom desbotada e a camisa creme de gola puída e sem os botões das extremidades da manga, mas lhe falta tanta coisa que um botão a mais ou a menos não fará diferença. Uma gravata com detalhes esotéricos folga em seu pescoço, pois já basta o aperto que a vida dá.” 

O site http://www.votebrasil.com/noticia/politica/professor-e-ze-lideram-lista-de-apelidos-de-candidatos-nas-urnas-eletronicas noticia que o apelido “Zé” foi o segundo mais escolhido para denominar candidatos às eleições de 2008. Entre 375 mil candidatos, mais de 10 mil escolheram ”professor” e 8,5 mil preferiram “Zé”. O motivo é óbvio, a busca do comum. O Zé sempre antecipa qualquer apelido: Zé Pelintra, Zé ...

“Zé” é Zé Pereira, Zé Pequeno, Zé Galinha, Zé Moleza, designativo geral e generalizante. Ninguém se lembra de grandes Zés como Zé Ramalho da música ou Zé Vicente e Zé Celso do teatro, O Zé Hamilton Ribeiro do jornalismo, só de Zé Sarney e do Zé Lelé do Chico Bento. O mais famoso é o Zé Mané, Zé do Caixão, este que personifica todos os “Zés”. Não é hora de mudar de nome? Quem acha que é bobagem diga que seu nome é José. Vira Zé em minutos...

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